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Resenha: Memórias Póstumas de Brás Cubas

Para algumas pessoas deve parecer estranho ler Machado de Assis por prazer. Não sei ainda é assim, mas até pouco tempo estudar literatura brasileira na escola era ser obrigado a ler certos livros com a idade errada, o que resulta em um asco a autores excelentes, que simplesmente tem uma linguagem incompatível com a nossa faixa etária. Afinal, Machado de Assis escrevia para adultos e, por isso mesmo, inseria em seus livros críticas à política da época, por exemplo. E diga-se de passagem que as críticas dele, seja pela natureza brasileira ou por visão de futuro, continuam atemporais.

Machado de Assis, negro, de origem humilde e fundador da Academia Brasileira de Letras
Machado de Assis, negro, de origem humilde e fundador da Academia Brasileira de Letras

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis abre a segunda e mais psicológica de suas duas fases literárias. Abre a segunda fase e abre mal. O livro tem um dos começos mais desafiadores (e chatos) que eu já li, o que acaba não compensando todo o resto do livro, que apesar de muito bom não chega aos pés de Dom Casmurro, Esaú e Jacó ou do excelente O Alienista.

O livro é narrado pelo próprio Brás Cubas, depois de morto. O protagonista pertence à elite da sociedade do Rio de Janeiro (capital do país na época, vale lembrar), interage com personagens das mais variadas camadas sociais e a trama vai do fim da vida do autor, ao nascimento e de volta ao fim da vida,  passando a maior parte focada em um triângulo amoroso.

Aparentemente fizeram um filme baseado na história. Alguém aí viu?
Aparentemente fizeram um filme baseado na história. Alguém aí viu?

O narrador morto é uma ideia bem interessante que resultou em um exercício de estilo que aparentemente Machadão só dominou depois. Ele não se apaga, mas se corrige na sequência – isso fica legal – e sempre prova para si mesmo e para o leitor que agiu corretamente, mesmo que usando argumentos sem sentido (conhece gente assim né?). Como sempre o livro é cheio de sarcasmo – Machado de Assis era ótimo nisso – e críticas sociais.

Tenho que dizer que, como todos os livros do século retrasado, o livro demanda um bom nível de conhecimento de língua portuguesa. Um pouco de História também é bom, mas não faz tanta falta. Com absoluta certeza não é o livro para se começar a ler Machado de Assis, pra isso recomendo O Alienista.

Uma das melhores frases do livro: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada mais” #euri

Nota: 6.