Resenha: O morcego – Jo Nesbø

O Morcego marca a estreia do detetive norueguês Harry Hole, um protagonista complexo e cheio de vícios que, anos depois, se tornaria um dos maiores nomes do thriller nórdico. A história começa quando Harry é enviado para Sydney, Austrália, para investigar o assassinato brutal de uma jovem norueguesa. O que parece um crime isolado logo se transforma em uma teia de corrupção, drogas e segredos sombrios.

A escrita de Jo Nesbø é envolvente e cheia de estilo, criando uma atmosfera pesada que combina bem com o tom noir da trama. No entanto, o livro peca pelo ritmo arrastado, especialmente na segunda metade, onde a investigação parece andar em círculos antes de chegar a um desfecho.

“Os aborígines estão praticamente ausentes da vida social australiana, exceto pelos debates políticos sobre os interesses e a cultura de seu povo. Os australianos no geral os apoiam da boca pra fora, pendurando obras de arte aborígine nas paredes de suas casas. Enquanto isso, somos bem representados nas filas do auxílio-desemprego, estatísticas de suicídio e prisões. Se você é aborígine, a chance de acabar preso é vinte e seis vezes maior que a de qualquer outro australiano. Pense nisso, Harry Holy.”

Um dos pontos mais contraditórios é a abordagem do livro sobre a colonização da Austrália e a opressão aos aborígenes. A crítica social está lá, mas soa um pouco hipócrita quando o herói da história é um europeu branco e… outro problema que comento na seção com spoilers.

O Morcego não foi adaptado para outra mídia, mas Harry Hole foi vivido por Michael Fassbander em Boneco de Neve (2017)

Nota 7 / 10. No geral, O Morcego é um thriller competente, mas não brilhante. Comecei e abandonei uma vez, e mesmo na segunda vez tive que insistir um pouquinho.

Spoilers

O problema é que o livro perde um pouco do foco ao introduzir subtramas desnecessárias, como o romance entre Harry e uma testemunha, que pouco acrescenta à trama principal. Quando finalmente descobrimos que o assassino é Toowomba, um homem aborígene traumatizado por abusos do passado, a revelação acaba reforçando um clichê narrativo: o criminoso é um nativo que age por vingança, enquanto o detetive branco “salva o dia”.

Além disso, o final se arrasta com cenas de confronto que poderiam ser mais impactantes se o livro fosse mais enxuto.

Era o grande tubarão-branco. A cabeça branca emergiu da água e abriu as mandíbulas. Tudo parecia acontecer em câmera lenta. Harry tinha certeza de que o bicho mataria Toowoomba, mas não conseguia segurá-lo direito e apenas arrastava o corpo, que continuava gritando, mais para dentro do tanque antes de mergulhar outra vez.

No fim, O Morcego é um começo irregular para a série Harry Hole. Tem seus méritos, mas também carrega falhas que eu espero que Jo Nesbø não tenha cometido nos livros seguintes.