Peguei Véu, de Greg Rucka e Toni Fejzula, em uma promoção da Mythos e não me arrependi. A premissa parece clichê — uma mulher acorda sem memória em um beco, cercada por ratos e um ar de perigo — mas o desenvolvimento é interessante. A protagonista, Véu, não sabe quem é, mas claramente não é comum, e tem gente atrás dela.
A arte de Fejzula é muito boa. As cores são usadas em blocos intensos e os rostos expressivos dão peso aos diálogos. Não é um estilo hiper-realista, mas funciona muito bem para a vibe sobrenatural da história.

O ritmo é bem dosado, com cenas de ação, suspense e até um pouco de humor seco. Só o final que… bom, chego lá. E sim, apesar do começo sugerir um clima adulto, não tem nudez explícita nem cenas de sexo — só tensão e um ar de perigo constante.
Nota 8 / 10. Se você achar por menos de R$ 20,00 (como eu, que paguei só R$ 10,00 em uma promoção), é um ótimo negócio. A história é envolvente, a arte é linda, mas prepare-se para um desfecho que deixa mais perguntas que respostas.

Spoilers
Agora, se você já leu ou não se importa com spoilers, vamos ao que interessa: Véu não é humana. Na verdade, ela é uma entidade sobrenatural — possivelmente um demônio ou algo parecido — que foi trazida pro nosso plano (sim, lembra um pouco o aprisionamento do Sandman). Suas habilidades são muitas e incluem manipular mentes e, claro, causar bastante destruição.
Os vilões são dois: Scarborough, um engravatado meio mafioso que contrata Cormac, um mago que realmente executa o serviço. O problema é que nenhum dos dois tem um desenvolvimento profundo. Scarborough é genérico, e o Cormac some antes de explicar direito seu papel. A única relação interessante é a de Véu com o co-protagonista, Dante, que tenta ajudá-la (e quase morre no processo).
O final é onde a história tropeça. Depois de uma sequência de revelações meio apressadas, Véu decide que não quer ser controlada e… some. Literalmente. O Cormac some também, Dante fica vivo, e a gente fica sem saber se Véu é uma ameaça, uma vítima ou algo além. Rucka claramente deixou espaço para uma continuação, mas como nada saiu até hoje, fica aquele gosto de “era isso?”.

Ainda assim, a jornada vale a pena. As várias transformações de Véu são excelentes e a arte de Fejzula brilha nessas horas. Se você curte histórias com protagonistas enigmáticas e um clima de noir sobrenatural, Véu é uma boa pedida — só não espere respostas fechadinhas.