Resenha: O Arqueiro (A Busca do Graal Vol. 1) – Bernard Cornwell

“O Arqueiro” é o primeiro volume da trilogia A Busca do Graal, de Bernard Cornwell. A obra se passa durante o começo da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), e acompanhamos Thomas de Hookton, um jovem arqueiro inglês que, além de enfrentar os horrores da guerra, carrega uma missão pessoal ligada ao seu passado e a um artefato lendário.

Cornwell é mestre em descrever batalhas e reconstruir cenários históricos com riqueza de detalhes, e isso é, ao mesmo tempo, uma das grandes qualidades e um ponto que pode cansar. Embora o livro tenha um ritmo muito bom na maior parte do tempo, há passagens em que as descrições de lutas se alongam demais, tornando a leitura um pouco arrastada em alguns momentos.

Ainda assim, a trama envolve bem, combinando guerra, intrigas, religião, fanatismo e a clássica busca por um artefato sagrado, o Santo Graal. O protagonista é carismático e carrega um arco narrativo que mistura vingança, autodescoberta e sobrevivência.

Thomas de Hookton, fan art de Sergey Shikin.

Minha nota para o livro é 8 de 10. Gostei bastante da leitura, mas, sinceramente, a continuação não virou uma prioridade imediata — é um livro que cumpre bem seu papel como aventura isolada, mesmo fazendo parte de uma trilogia.

Spoilers

A história começa na pequena vila de Hookton, na Inglaterra, onde vive Thomas, filho bastardo de um padre local. A vida de Thomas muda completamente quando sua vila é atacada por mercenários liderados por Guy Vexille, um cavaleiro francês que assassina seu pai e rouba uma misteriosa relíquia: uma lança antiga, que poderia estar ligada à lança de São Jorge.

Movido pela vingança e pelo desejo de recuperar a relíquia, Thomas se junta ao exército inglês, que está partindo para a França em meio à Guerra dos Cem Anos. Lá, ele se destaca como arqueiro — uma função temida pelos franceses, já que os arqueiros ingleses eram decisivos nas batalhas da época.

— São Jorge! — gritaram os ingleses, mas o santo devia estar dormindo, porque não deu ajuda alguma aos atacantes.

Durante sua jornada, Thomas faz aliados importantes, como Jeanette, uma jovem viúva que é seu interesse romântico por boa parte do livro, e Eleanor, com quem se casa. Há também Skeat, líder de um grupo de arqueiros ingleses, e o padre Hobbe, seu amigo e espécie de mentor espiritual. Paralelamente, ele também enfrenta inimigos poderosos, incluindo novamente Guy Vexille e Sir Simon, com quem ele consegue arrumar umas quatro brigas diferentes ao longo da história.

Grande parte do livro se concentra nas campanhas militares inglesas em território francês, incluindo cercos, batalhas e escaramuças. Todas as batalhas são reais (afinal estamos falando de Cornwell), com exceção de um ou outro aspecto em uma batalha, que são explicadas no fim do livro. Thomas se vê frequentemente dividido entre seus deveres como soldado e sua busca pessoal. A certa altura, ele descobre que o Graal está relacionado ao passado de sua família e que seu pai fazia parte de uma linhagem secreta de guardiões desse artefato.

Quando a desordenada primeira carga francesa chegou aos soldados ingleses, ela mesma já se rompera em pedaços e tivera a velocidade reduzida a passo, porque a longa, suave e convidativa encosta revelara-se uma pista de obstáculos de cavalos mortos, cavaleiros derrubados das selas, flechas assobiando e fossos escondidos na relva, que quebravam pernas. Só uns poucos homens alcançaram o inimigo.

No fim, em mais uma das batalhas entre Inglaterra e França, Thomas confronta Guy Vexille, mas não consegue matá-lo — o rival escapa, deixando claro que o acerto de contas ficará para os próximos volumes. Apesar disso, Thomas recupera informações valiosas sobre o Graal e entende que sua busca está apenas começando. Pelo menos vemos o fim de Sir Simon.

Pintura do príncipe negro na batalha de Crecy, retratada no livro.

Ao final do livro, Thomas segue vivo, fortalecido e com mais pistas sobre o paradeiro do Graal. O arco de vingança contra Guy permanece em aberto, e a trilogia deixa bem encaminhada a sequência da jornada, tanto em relação à caça ao Graal quanto às pendências pessoais do protagonista.