Resenha: Noites Brancas – Fiódor Dostoiévski

Clássico baratinho e bem curto (só 82 páginas) de um autor russo que vale a pena.

Você sabia que em S. Petersburgo, no início do verão, o sol nunca se põe? O livro, todo narrado em primeira pessoa, se passa em quatro dessas “noites brancas”.

O “sonhador”, nosso protagonista sem nome, é um jovem de 26 anos que gosta de caminhar pelas ruas de S. Petersburgo. Na primeira noite do livro ele encontra ao acaso Nástienka, uma jovem de 17 anos que mora com a avó.

Marcello Mastroianni e Maria Schell na adaptação dirigida por Luchino Visconti (1957)
Marcello Mastroianni e Maria Schell na adaptação dirigida por Luchino Visconti (1957)

O protagonista vê Nástienka chorando no parapeito de um canal, mas não faz nada. Na sequência, ela começa a caminhar e, ao ver que um fulano qualquer ia começar a mexer com ela, ele finge que a conhece e faz o sujeito sossegar o facho. Eles começam a conversar e, de cara, nosso amiguinho se apaixona.

Será que vai dar certo? Deixei os spoilers aí embaixo.

Como são as “noites brancas” na Rússia. Peguei a foto lá no site Russia Beyond.

Esse livro é da época do romantismo. Ler certas obras no século XXI fica meio complicado, então eu diria que esse livro hoje em dia fala mais com os adolescentes apaixonados do que com os adultos com boleto pra pagar.

O livro é bom. Até muito bom, eu diria. Não sou crítico literário, mas também diria que não é a melhor representação de Dostoiévski nem de longe (esse livro foi escrito antes dele ser preso, o que mudou muito o seu jeito de pensar). Se quiser começar de algum livro curto, recomendo O Jogador.

Foi meu primeiro livro físico depois de muito tempo. Peguei a edição da Editora 34 que é muito boa, recomendo.

Nota 8/10. Livro muito bom, curtinho, leitura gostosa, vale a pena inclusive para dar de presente para aquele adolescente apaixonado que gosta de leitura.

Ilustração de Nicolai Troshinsky

Spoilers

Um resumo? A história são quatro noites de um virjão apaixonado que fica na friend zone de uma desconhecida.

Não contei aí em cima, mas Nástienka, na verdade, está apaixonada por outro rapaz, um ex-inquilino de sua avó. Ele disse a ela que voltaria depois de um ano, tempo que tinha acabado de acabar quando o sonhador a vê no parapeito (daí o motivo do choro).

Nástienka em momento nenhum ilude o sonhador, só dá papo pro maluco mesmo (talvez seu maior erro). Ele é que não se aguenta e se apaixona perdidamente como qualquer romântico.

Porque nesses momentos já começa a me parecer que nunca serei capaz de começar a viver uma vida autêntica; […] porque depois de minhas noites fantásticas sou logo tomado por terríveis momentos de desilusão!

No fim, Nástienka desiste de esperar e diz que ficará com o sonhador, mas nos 47 do segundo tempo o outro rapaz aparece e o sonhador fica só sonhando mesmo. O melhor HOJE NÃO, HOJE SIM do mundo da literatura.

Em 2025, o “sonhador” pode ser o personagem ideal de algum adolescente perdido ou perdida (perdide?), mas no geral é só um virjola que não amadureceu mesmo. Meio incrível como um cara de 26 anos pode ser tão pateta… Nástienka, bem mais nova, já tinha o pé mais no chão.

Meu Deus! Um momento inteiro de júbilo! Não será isso o bastante para uma vida inteira?…