Na época que decidi criar conteúdo para internet eu andava todo dia no mesmo ônibus no mesmo horário vendo as mesmas pessoas. O fato de vê-las todo dia, podendo observar seu comportamento – às vezes caras de tristeza, às vezes felicidades, ligações telefônicas – me levou a pensar em escrever um blog que teria como título “Diário de um passageiro”. A idéia não vingou (pra variar por preguiça minha).
Ontem terminei de ler “Quincas Borba” do Machado de Assis onde o personagem principal, Rubião, vai da pobreza à morte passando pela riqueza, paixão, ambições, loucura e fome (tudo isso contando com a companhia de um dos Quincas Borba do livro).
Esses fatos aparentemente disconexos, a não ser pelo fato de fazerem parte da minha vida, ficaram mais perto um do outro hoje, quando peguei o mesmo ônibus que pegava antes. Os personagens de antes foram-se embora e percebi a entrada de outros, novos, melhores por suas raridades e diferenças.
Primeiro um ruivo com barba grande e sem bigode que me remeteu à um daqueles leprechauns (ele não vestia verde). Depois um louco, não como o Napoleão/Rubião do Machado, mas uma mistura de Didi Mocó com Ricardo Blat. O cara fazia altos gestos e caretas e todo mundo achava a maior graça. O casal que estava sentado atrás de mim soltou um “só tem raridade nesse ônibus” o que me fez pensar na importância da nossa sanidade, na linha tênue entre ter estilo e ser ridículo e um pouco no sentido da vida (a viagem estava acabando à essa altura).
Fatos do cotidiano me levam a adotar a visão Machadiana da vida: um espetáculo tedioso, onde fatos relevantes são excessões. Vivemos num drama com romance, comédia, suspense, ficções, mentiras, vilanias, ironias e cinismo.
A vida é um espetáculo e o gênero só depende do ponto de vista.