Hadji Murad - Liev Tolstói

Resenha: Hadji Murad – Tolstói

Bom, literatura russa você já sabe né? Os nomes são impossíveis de acompanhar.

Na boa, esse é o menor dos problemas desse livro. Se você nunca ouviu falar da Guerra do Cáucaso, eu recomendo fortemente que você vá se informar antes de começar a ler, porque vai fazer diferença.

Hadji Murad foi uma pessoa real. Hadji, aliás, nem é nome, é o termo usado para se referir aos mulçumanos que fizeram a peregrinação até Meca (dessa você não sabia, né? Nem eu, mas ele explica no livro). Murad, que inicialmente luta contra os russos, tem sua família capturada por um ex-aliado. Para resgatá-los ele tenta forjar uma aliança com os antigos inimigos e a trama do livro se desenrola nesse (curto) período.

“Ótimo”, disse Hadji Murad. “Uma corda deve ser longa; um discurso deve ser curto.”

O livro é curto (188 páginas), bem baratinho (R$ 12 no Kindle), mas é uma enxurrada de personagens. Tolstói gasta páginas e mais páginas falando sobre pessoas pras quais ele nunca mais volta, enquanto o protagonista fica esquecido por bastante tempo. O resultado é que você nem se apega ao protagonista, nem se importa com os coadjuvantes.

O ponto alto do livro deveria ser o contraste entre a decadência da sociedade russa e a retidão dos caucasianos. Não funciona, fica só piegas e meio chato.

“No nosso país existe um provérbio que diz o seguinte”, disse ao intérprete: “O cão deu carne ao burro e o burro deu feno ao cão. Os dois ficaram sem comida.” E ele sorriu. “Cada país ama seus costumes.”

A publicação de Hadji Murad aconteceu depois da morte de Tolstói, que nunca considerou o livro acabado. Ele revisou um zilhão de vezes, mas achava que faltava alguma coisa. Para mim, existe uma história ali, mas perdida no meio de um monte de distrações mal aproveitadas.

Não é que o livro seja horrível, não me entenda mal. Ele é só mediano e, talvez, eu tenha começado a ler com a expectativa alta demais.

Li o livro por indicação do tradutor, Jurandir Gouveia, em um vídeo do YouTube. Segundo Harold Bloom, Hadji Murad é a melhor história do mundo. Não entendo nada de literatura mesmo, porque, infelizmente, o livro não passou nem perto para mim.

Spoilers adiante!

Murad se entrega aos russos com alguns aliados e fica pingando de lugar em lugar, implorando para que os russos o ajudem a resgatar sua família. A impressão que dá é que Tolstói quis descrever TODOS os russos que participaram da guerra… Se fosse um bando de João, Miguel e Maria seria fácil, mas tem Vorontsov, Poltoratsky e Tihonov. Até tem uma Maria, mas é Maria Dmitrievna!

O meio do livro é repleto de histórias curtas. Avdeyev, por exemplo, é um soldado que se alistou no lugar de seu irmão mais velho, para que esse não deixasse a esposa e filha para trás. Atingido por um tiro, Avdeyev morre contribuindo para um bom capítulo, mas bem pouco para a história do livro em geral.

Tolstói gasta outro capítulo falando do imperador Nicolau I, um personagem completamente preto e branco, descrito como velho, gordo, incompetente e narcisista. Como cereja do bolo, ele se envolve com uma jovem de 20 anos, filha de uma governanta sueca.

Na página 116, Tolstói introduz ainda outro personagem, o oficial Butler. Esse é gente boa, fica até amigo de Hadji Murad, mas acaba se dando muito mal no fim da história por conta de uma dívida de jogo (não tinha tigrinho na época, mas o pessoal se lascava também).

Lá pelas tantas, Hadji Murad se cansa e decide fugir dos russos para resolver as coisas por conta própria. Corta para um personagem chegando em um lugar com uma bolsa. Dentro da bolsa uma cabeça, a de Hadji Murad! Sinceramente, eu só queria que o livro acabasse. Volta para Hadji e explica como ele lutou bravamente, mas era impossível sobreviver.

“Bem, posso te mostrar a novidade? Você não está com medo?”, ele perguntou, virando-se para Maria Dmitrievna. “Medo que?”, ela disse. “Aqui está”, disse Kamenev, puxando a cabeça de um homem e expondo-a ao luar.

Justiça seja feita, a tradução é muito competente. Existem um milhão de termos específicos da região, mas para todos há uma nota rápida, que não atrapalha o ritmo da leitura.

Só recomendo se você gosta muito de literatura russa (Dostoiévski é bem melhor) e tem bom conhecimento de história e geografia da região.

Nota 3 / 5.