Esse livro me ganhou NO PRIMEIRO PARÁGRAFO. É de uma escrita tão hipnotizante que eu nem sei como recomendar essa joia para vocês!
Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: “Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.” Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem.
O livro é todo narrado em primeira pessoa por Meursault, nosso protagonista. Ele tem uma vida bem banal: emprego meia boca, vizinhos, uma namoradinha, etc. Lá pela página 64 (o fim da primeira parte) acontece algo grande, que muda completamente o rumo do livro, que é bem curto. A edição da Record tem só 126 páginas.
Logo de cara pensei “esse personagem parece meio autista…”. Fui pesquisar e Albert Camus (se fala Albér Camí, por sinal) se baseou em um amigo, Pierre Galindo, que parecia mesmo estar no espectro autista, embora não houvesse diagnóstico na época. A forma como ele lida com tudo o que acontece à sua volta e o jeito que Camus escreve é realmente fascinante.

A citação aí em cima é o primeiro parágrafo do livro, então saber que a mãe dele morreu não é spoiler. Aliás, se você não quer spoilers, NÃO LEIA A ORELHA DO LIVRO, mas confesso que saber o que ia acontecer não me tirou nada da experiência. Talvez tenha sido até melhor assim.
Algo interessante sobre esse livro: metade do que você lê sobre ele na internet é CLARAMENTE escrito por quem não leu uma página sequer. São nitidamente só uma análise de outra análise. Fique de olho.

Nota 10/10. Já estou vendo qual será meu próximo livro desse cara, realmente muito bom.
Spoilers
Bom, se você leu a tal orelha do livro já sabe: Meursault mata um estrangeiro e é condenado a morte por isso.
Tudo começa porque um vizinho do protagonista (vacilão demais), faz uma merda e acaba ameaçado por uns árabes, que o perseguem. Lá pelas tantas, Meursault, com um revólver no bolso, acaba encontrando um deles e, num lapso, o mata. O indefensável são os quatro tiros depois do cara caído, mas tudo bem, é só um livro.
A primeira parte do livro acaba quando o protagonista mata o rapaz. A segunda vai desde a sua prisão até seus últimos pensamentos antes da morte.
[o juíz de instrução] Pareceu-me uma pessoa muito sensata e, afinal, simpática, apesar dos tiques nervosos que lhe repuxavam a boca. Ao sair, ia até estender-lhe a mão, mas lembrei-me a tempo de que matara um homem.
O livro não pesa em momento nenhum, especialmente pelo modo indiferente e impessoal que Meursault lida com tudo, em especial com a própria vida. Não é que ele não quer viver, mas seu senso prático sobrepuja TODO o resto, fazendo dele o ser mais pragmático do universo. E isso é incrível.
Obrigaram-me outra vez a declinar minha identidade e, apesar da minha irritação, pensei que, no fundo, era bastante natural, pois seria muito grave julgar um homem em lugar de outro.
Também lendo na orelha do livro, escrita pelo Arthur Dapieve, descobri que tem uma música do The Cure chamada Killing An Arab que é baseada no livro. A música é só mais ou menos, mas achei interessante.