Nota 10/10. Baita graphic novel, daquelas que faz a gente lembrar porque quadrinhos são um meio tão fantástico de se contar uma história.
Baseada nos fatos ocorrido na cidade de Salém (Massachusetts, EUA) em 1692, a história segue Abigail Hobbs, uma das muitas mulheres enforcadas como bruxas graças à maluquice religiosa do povo local, em especial o Reverendo Parris.
Como ex-crente confesso que gosto de quase toda obra que exemplifique maluquice religiosa. O Thomas Gilbert faz isso muito bem, mas também vai mais além, mostrando uma sociedade machista, manipulável e sempre em busca de bodes expiatórios.
Através de Abigail vemos vários exemplos de como tudo o que é feminino é sufocado (seja sua primeira menstruação, seu primeiro namoradinho, a dona da taverna ou a escrava estrangeira) e também como tudo o que é desconhecido é tido como coisa do diabo.
Se Abigail serve como fio condutor do sofrimento das mulheres, é digno de nota o contraponto feito pelo reverendo Parris com toda a sua escrotidão e hipocrisia. A coisa vai escalando de uma forma, que no fim, é impossível não ficar revoltado com o rumo que a história tomou.
Também é digno de nota que, como sempre, os mais necessitados são simplesmente massacrados pela sociedade e pela igreja. Lembra um pouco o que comentei lá no post sobre Conclave.
A arte é excelente e a edição da DarkSide é incrível de bonita e bem feita, como sempre. Ah, o livro tem nudez, violência, sexo e UM MONTE de possíveis gatilhos, então considere isso tudo se for dar de presente para alguém.
Se você curte esse assunto e principalmente obras que mostram como às vezes as mulheres são simplesmente empurradas até seus limites, assiste o filme A Bruxa do Robert Eggers. Você vai gostar.
Cuidado, mais spoilers! Para encerrar, tem duas passagens que são incríveis:
- A sequência do parto da Sarah na prisão é OURO.
- No fim, quando Abigail explode e conta o podre do Rev. Parris na frente de todo mundo eu já tava quase gritando “É ISSO AÍ!” aqui dentro de casa.