Alguns livros não envelhecem, eles assombram a literatura. O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë, é um desses. Publicado em 1847, esse único romance da autora segue atravessando gerações, ventos e corações despedaçados. O interessante e triste é que Emily só viveu mais 1 ano após a publicação do seu livro, falecendo aos 30 anos.
É uma história que não quer ser apenas lida, mas sentida: cheia de amores impossíveis, ciúmes, orgulho e uma paisagem tão bruta quanto os sentimentos que abriga.

🌀 Parte 1 – sem spoilers
Quando eu digo que “toda mulher lê essa história”, não estou exagerando ou pelo menos não muito. O Morro dos Ventos Uivantes é um daqueles livros que parece viver num círculo vicioso da alma feminina (ou quase isso): paixão, dor, desejo, orgulho tudo temperado com uma boa dose de tormento emocional.
E olha que não sou só eu quem diz isso: até a Bella Swan, a protagonista de Crepúsculo, jurava que esse era o livro favorito dela. E faz sentido se alguém entende de paixões impossíveis, amores atormentados e silêncios dramáticos sob a chuva, é ela. Dá pra imaginar a Bella lendo O Morro dos Ventos Uivantes pela enésima vez enquanto o Edward observa com aquele olhar de “sou intenso”.🤭Quem mais foi fã da saga Crepúsculo?!

Mas voltando à realidade: Emily Brontë era escritora e não qualquer escritora, mas uma que ousou transpor os limites de seu tempo com um romance salpicado de loucura, beleza selvagem e tensão afetiva. Escrever em meados do século XIX, quando mulheres eram frequentemente vistas como “o sexo delicado” que devia produzir “leiturinhas leves”, construir um romance tão visceral era um ato quase subversivo.
E, como se não bastasse, vem aí um novo filme baseado na obra. A adaptação será dirigida por Emerald Fennell, com Margot Robbie como Catherine e Jacob Elordi como Heathcliff. O lançamento no Brasil deve acontecer em fevereiro de 2026. O trailer já deixou o público dividido entre “Uau!” e “Emily deve estar se revirando no túmulo”, graças às cenas quentes e à releitura moderna do romance. Gosto muito do filme feito em 1992 (tipo no século passado) onde a Catherine é interpretada pela maravilhosa Juliette Binoche, e o Heathcliff pelo ator Ralph Fiennes. Tem outros, mas esse é o melhor para ver essa história em filme.

Por fim e talvez o mais importante as mulheres nessa história não são figurantes. Catherine é o epicentro emocional do romance; Isabella sofre à sua maneira; Nelly, a narradora, é a bússola moral em meio ao caos. Brontë não criou mulheres “boazinhas” nem “santinhas”, criou humanas, cheias de contradições, e é exatamente por isso que a gente se vê nelas.
Essa parte sem spoilers é uma “provocação literária”. Agora, se você estiver pronta(o) para encarar os ventos, o amor e as tempestades… venha comigo pra próxima parte!
🌪️ Parte 2 – com spoilers (e com os ventos soprando forte!)
Agora sim, vamos descer o morro 🤭 e segura firme, porque O Morro dos Ventos Uivantes não é passeio de tarde ensolarada, é tempestade emocional com trovões de orgulho e relâmpagos de vingança.
Tudo começa com Heathcliff, um garoto órfão, com pele mais escura (cigano) e misterioso que é acolhido pela família Earnshaw. Logo de cara, ele e Catherine, a filha da casa, criam um laço daqueles que parecem atravessar mundos. Só que o amor deles é do tipo que não cabe em moldes sociais, nem na boa convivência. Ele é bruto, intenso, quase animalesco e o mundo vitoriano não sabia lidar com isso.
Catherine ama Heathcliff, mas casa-se com Edgar Linton, o vizinho educado e “aceitável”. A justificativa dela é quase uma tese de sociologia: ela o ama, mas acredita que casar com alguém de “status” é o certo… e que assim vai conseguir ajudar o Heathcliff a melhorar de vida. Resultado? Heathcliff desaparece, retorna anos depois riquíssimo (ninguém sabe exatamente como, nem é explicado), e inicia um plano de vingança digno de novela mexicana, só que sem o humor leve. Ele destrói lentamente todos os que, direta ou indiretamente, o feriram.

O morro vira um palco de ressentimento e desejo mal resolvido. E o amor entre Catherine e Heathcliff? Nunca se apaga, é como um fogo que queima até depois da morte (literalmente, já que há fantasmas). Catherine morre, mas o espírito dela continua rondando o lugar, atormentando Heathcliff até o fim. E o fim dele… bem, é daqueles que faz a gente fechar o livro olhando pro teto, tipo: “ok, Emily, você venceu.”
Entre gritos, ventanias e portas batendo, o livro vai mostrando como o amor pode ser tanto fonte de vida quanto de destruição. A geração seguinte (os filhos e sobrinhos) tenta, de algum modo, reparar o caos deixado por esses dois furacões humanos e, no meio disso tudo, há um vislumbre de redenção e talvez um final feliz.
🌿 Por que ainda lemos O Morro dos Ventos Uivantes?
Talvez a resposta esteja no fato de que Emily Brontë escreveu sobre o que ainda somos. Mesmo séculos depois, ainda tropeçamos nos mesmos ventos: amores que nos enlouquecem, expectativas sociais que nos aprisionam, e a eterna tentativa de entender o que é o amor: cura ou condenação?
Ler O Morro dos Ventos Uivantes hoje é quase um exercício de autoconhecimento. A cada relâmpago emocional, a gente se pergunta: “E se fosse eu?” e talvez essa seja a magia deste livro. Ele não quer nos consolar, quer nos cutucar, nos fazer sentir. E é por isso que, geração após geração, mulheres (e homens também) continuam abrindo essas páginas e se deixando arrastar pelo vento. Então, se você ainda não leu, prepare o cobertor, um chá e o coração.
E se já leu… bom, você sabe: a tempestade nunca passa totalmente.