Resenha | Batman: Silêncio — Jim Lee, Jeph Loeb e Scott Williams (DC de Bolso)

Batman: Silêncio é, sem dúvida, uma das obras mais celebradas do Homem-Morcego. Publicada originalmente entre 2002 e 2003, essa graphic novel reúne uma verdadeira constelação de personagens do universo do Batman, costurada em uma trama de suspense, ação e mistério. A edição da coleção DC de Bolso da Editora Panini entrega um ótimo custo benefício, com impressão de boa definição que não sacrifica a experiência da leitura, mesmo em um formato mais compacto. Lembram que eu reclamei do tamanho da letra de Watchmen? Isso não é um problema aqui.

O grande espetáculo aqui, sem sombra de dúvidas, é a arte deslumbrante de Jim Lee, com finalização de Scott Williams. Cada página parece ter sido desenhada com esmero: os detalhes das expressões, a anatomia dos personagens e os cenários urbanos de Gotham ganham vida de uma forma absolutamente cinematográfica. Aliás, já viram o Jim Lee desenhando no YouTube? O cara é gente boa demais!

No roteiro, Jeph Loeb entrega uma narrativa eficiente, cheia de ritmo, que funciona muito bem para quem é fã ou até para quem está começando no universo do Batman. A história passeia por quase toda a galeria de vilões e aliados do herói, com direito a participações especiais de pesos-pesados como Superman e Mulher-Gato. Contudo, se por um lado o roteiro amarra bem as relações e os mistérios, por outro, ele tropeça na resolução — especialmente na revelação do verdadeiro vilão por trás dos eventos, o que pode soar anticlimático para alguns leitores mais exigentes.

Exemplo do estilo mais usado na graphic novel

Batman: Silêncio também ganhou uma adaptação em animação (disponível na HBO Max, ou seja lá qual nome eles estão usando agora…), que enxuga um pouco a história, mas não compromete. Seja na HQ ou na animação, é inegável que Silêncio se consolidou como uma obra fundamental na mitologia moderna do Cavaleiro das Trevas.

Nota 9 de 10. Vale a pena demais: excelente arte e história muito boa, que não encerra tão bem, mas compensa pela jornada.

Spoilers

Entrando agora no território dos spoilers, vale detalhar mais sobre os elementos que tornam Silêncio tão marcante — e também aqueles que acabam deixando a desejar. A história gira em torno de uma série de eventos que colocam Batman em rota de colisão com vários de seus vilões clássicos. Aos poucos, ele percebe que não se trata de coincidências, mas sim de uma orquestração cuidadosa para desestabilizá-lo tanto fisicamente quanto emocionalmente.

Para os (poucos) flashbacks, as cores são esmaecidas. Um toque bem legal para diferenciar as épocas.

Nesse percurso, vemos momentos memoráveis: o confronto épico contra o Superman (controlado pela Hera Venenosa) é, talvez, uma das sequências mais icônicas não só desta HQ, mas da história recente do personagem. Também se destaca o aprofundamento do relacionamento entre Batman e Mulher-Gato, que aqui chega a um ponto raramente explorado, com Bruce revelando sua identidade para Selina — um marco na relação dos dois. (É tão bonitinho!)

Porém, é na revelação do vilão que o roteiro escorrega. Durante toda a trama, somos levados a acreditar que Silêncio, o misterioso antagonista, é uma nova peça no tabuleiro — alguém que conhece profundamente Bruce Wayne. No entanto, quando descobrimos que se trata de Thomas Elliot, um amigo de infância de Bruce, a revelação não tem o impacto esperado, justamente porque o personagem foi apresentado rapidamente e não teve tempo suficiente para gerar uma conexão com o leitor. Fica a sensação de que a solução foi, de certa forma, forçada. Mas para mim o pior foi a revelação de que era o Charada manipulando tudo nos bastidores. Pô, justo o Charada?

Essas duas páginas são uma mistura de todos os estilos. Olha esse quadro da Batgirl, que bonito!

Apesar disso, Batman: Silêncio compensa qualquer tropeço narrativo com seu conjunto visual impecável e com uma jornada que captura perfeitamente a essência do personagem: suas fragilidades, seus vínculos e, sobretudo, sua humanidade. Mesmo com um final que poderia ser mais impactante, a obra segue sendo uma leitura obrigatória para fãs do Cavaleiro das Trevas — e essa edição da coleção DC de Bolso da Panini entrega tudo isso de forma acessível, prática e muito bem acabada.