Depois de anos sem ouvir o Frango Fino, descobri lá no grupo do Reddit que o Doug Lira participou de uma graphic novel nacional chamada Doppler, ao lado de Rafa Louzada e do roteirista Rainor Marinho.
Como já não se acha Doppler para vender, acabei encontrando minha edição em um sebo — mais especificamente, na Excelsior Comic Shop. A entrega foi rápida, o atendimento excelente e, pra minha alegria, o exemplar veio muito bem conservado, com direito até a um autógrafo do Rafa Louzada para o antigo dono, o misterioso “Murilo” (obrigado, Murilo, seja você quem for 😄).
(Inclusive comprei a graphic novel Punk Rock Jesus lá na Excelsior e estou esperando chegar. Quando terminar de ler, trago a resenha aqui no blog. Não esquece de se inscrever!)

Um show de arte em dobro
Doppler traz duas histórias visuais ambientadas no mesmo universo distópico e sonoro, com estéticas bem diferentes e igualmente impressionantes. Doug Lira assina uma história muda, com narrativa visual poderosa e expressiva, enquanto Rafa Louzada ilustra a outra, com balões e diálogos que complementam bem o traço dinâmico e carregado de personalidade. É impossível não sentir orgulho dos artistas brasileiros ao virar cada página. Ambos entregam trabalhos que facilmente estariam em qualquer vitrine de comic shops internacionais.

O problema está no roteiro. Extremamente pretensiosa, a história se acha inteligente demais, mas esconde sua simplicidade em uma camada desnecessária de enrolação (sim, é esse tipo de história, infelizmente). A premissa, um vírus que se espalha por ondas de rádio, só é explorada na sinopse. Além disso, um paralelo com uma caçada em uma floresta pareceu beeem forçada.
Vejam, o roteiro não é ruim, mas não faz jus às excelentes ilustrações. A obra também tem um engajamento político muito bom.
Vale a pena?
Apesar dos tropeços no texto, Doppler é uma HQ nacional ousada e visualmente arrebatadora. Só por isso já vale o investimento. Dou nota 8 de 10, e recomendo fortemente a leitura — especialmente se você encontrar uma edição perdida em algum sebo por aí. Com certeza compraria outras obras assinadas por esse trio. E quem sabe um dia não role uma reedição ou até uma continuação?