“Trifecta” é uma graphic novel do universo de Juiz Dredd, publicada originalmente nas edições da revista britânica 2000 AD e lançada no Brasil pela Mythos Editora. A proposta era ousada: entrelaçar três histórias separadas — Juiz Dredd, The Simping Detective (Jack Point) e Low Life (Frank Sujo) — e juntar tudo em uma grande revelação final. A edição nacional tem capa cartonada, papel de boa qualidade e, embora esteja atualmente indisponível no site da Mythos, ainda pode ser encontrada na Amazon neste link.

Comprei essa HQ por R$ 10 em uma promoção (isso, a mesma promoção de Véu e 2000 AD especial), e foi um bom negócio. A proposta é interessante, descobri só depois que o nível de ambição do projeto é notável, e o mundo distópico de Mega-City One é bem mais complexo do que eu imaginei. Mas infelizmente, na prática, a leitura foi decepcionante.

Apesar do entusiasmo da crítica, os vários roteiros pecam na execução, especialmente nas primeiras partes. Comecei a leitura achando que o problema era comigo, talvez por não conhecer tanto do universo expandido de Dredd. Mas à medida que avançava, percebi que o problema era realmente como a trama foi apresentada — de forma confusa, com pouca contextualização e uma sensação constante de “não era para eu estar entendendo isso?”. A última história, chamada Trifecta, tem um roteiro BEM MAIS claro e envolvente, o que só ressaltou o quanto o começo da HQ é mal construído.

Sobre a arte: no geral, é bem legal e as diferenças visuais entre as três séries funcionam bem. A arte de Carl Critchlow, na parte final da HQ (última imagem aqui do post), é o verdadeiro destaque. Ela dá vida à trama com mais dinamismo e personalidade. Frank Sujo é um personagem carismático e cheio de estilo, com um humor excêntrico que conquista. Já Jack Point, o detetive palhaço do núcleo noir, não me cativou — achei meio chatão.

Provavelmente vou ofender uma meia dúzia, mas a minha nota é só um 7 de 10. A ideia é boa, o universo é interessante e a arte tem seus méritos, mas o roteiro falha na introdução e prejudica a experiência para leitores novos. Talvez funcione melhor para quem já está imerso no universo de 2000 AD. Para mim, ficou aquele gosto de “poderia ter sido melhor”.
Spoilers
A narrativa começa de forma fragmentada, apresentando três histórias separadas sem avisar o leitor de que elas estão interligadas — o que só fica claro depois de certo tempo. Temos Dredd lidando com uma ameaça sutil à estrutura da Mega-City One; Jack Point se envolve em um caso com uma femme fatale e um plano obscuro; e Frank Sujo, como sempre, vivendo no limite entre insanidade e genialidade, investigando uma conspiração bizarra com alucinações e humor ácido.

Tudo converge na história final chamada Trifecta, onde as peças começam a se encaixar: há uma ameaça de infiltração governamental, um complô envolvendo a manipulação de juízes e o elo entre os três protagonistas é finalmente revelado. Aqui, a narrativa é mais clara, os diálogos têm ritmo e o enredo prende muito mais. É justamente esse clímax que faz pensar: por que as histórias anteriores não foram escritas com essa mesma clareza e engajamento?
Frank Sujo brilha no final, demonstrando inteligência e coragem no seu estilo desleixado e irreverente. A presença de Dredd dá o peso necessário, e até Jack Point ganha um momento ou outro de relevância — ainda que continue sendo o mais fraco dos três.