Acabo de voltar da reunião de um clube há pouco inaugurado. Não sóbrio também não ébrio, como diria Vicente Celestino, volto a escrever neste mal fadado blog, desta vez com uma intenção de apenas compartilhar com meu fiel leitor uma descoberta assaz instigante.
Todos sabem que, apesar de não fazê-lo muito bem, gosto muito de escrever e até viveria disso se Deus tivesse me reservado algum dom nesse sentido na sua sábia distribuição de cotas. Outro dia então me perguntei, como quem não quer nada, se poderia fazer um romance e descobri simplesmente que não saberia como fazê-lo. Acabaria escrevendo uma biografia disfarçada mudando só nomes e lugares. E eis que outro dia, talvez hoje mesmo ou ontem pela manhã percebi (ainda completamente sóbrio) como nascem os romances.
Leste Dom Casmurro, caro leitor? No final, quando Bentinho faz breve elucubração sobre seu filho, Machado de Assis solta uma pista. Preste atenção, meu nobre, é sutil a coisa. Diz ele que (em outras palavras) talvez seu filho seja só uma infeliz coincidência da soma das possíveis características físicas de um ser humano. Nariz grande ou pequeno, alto ou baixo, etc. Eis aí, eis aí a pérola! Os personagens são exatamente isto! Uma soma das possíveis características, não físicas mas emocionais das pessoas.
O ilustríssimo leitor há de me perdoar. O que lhe parece inteiramente banal pra mim foi uma espantosa descoberta. Com a totalidade de minhas próprias características trocando uma ou outra pelas características quiçá de um mendigo posso ter uma pessoa inteiramente nova, que talvez até exista em outro estado ou país. E juntando duas ou três dessas invenções… voilá! Nasce um romance!
Desculpe-me meu caro, não quis aborrecê-lo, mas precisava compartilhar dessa descoberta com alguém e se não com quem além daqueles que leêm esse romance diário que escrevo por aqui. As favas com a concordância ou a crase, o que me importa agora é compartilhar com os amigos as coisas boas que recém descobri. E que venham os romances!