Clássico, fácil, leiturinha gostosa, ótima metáfora, mas, sobretudo, MUITO VIAJANDÃO!
A história é simples: o protagonista acorda e nota que virou uma baratona gigante. A metáfora, poderosíssima: o que acontece quando um membro da família deixa de ser produtivo e passa a ser só um estorvo nojento.
O livro tem incríveis 96 páginas e não enrola em absolutamente nada. Ele já começa com Gregor transformado e a história dele e da família é dada em pinceladas através do texto mesmo.
O que mais me pegou no livro foram os pensamentos de Gregor, sempre preocupado e dedicado à família. Sua mãe, seu pai e sua irmã, por outro lado, nada conseguem fazer para ajudá-lo e a situação só vai piorando conforme o livro avança.
Outra coisa digna de nota é que comecei o livro pensando que teria que ir com a suspensão de descrença lá em cima, mas Kafka controla tão bem a situação e os envolvidos que em momento nenhum a gente pensa “Ah, mas aí teria dado polícia” ou “É, mas na vida real teriam chamado um jornal”.
O livro também não descamba pro gore ou pro nojento excessivo. É só a agonia de Gregor mesmo, sua adaptação ao novo corpo, mas nada que chegue perto de dar ânsia ou coisa assim. O menino Kafka fez tudo com bastante bom gosto e tá de parabéns.
Com vagar ele se moveu até a porta, ainda de forma desajeitada, tateando com as antenas, que agora havia aprendido a apreciar, para ver o que lá havia acontecido. Seu lado esquerdo parecia ter uma única e longa cicatriz, estirada de um jeito desagradável, e ele teve que mancar sobre as duas fileiras de pernas. Aliás, uma perninha havia sido gravemente ferida durante os incidentes da manhã — era quase um milagre que apenas uma tivesse sido ferida — e se arrastava sem vida.
Spoilers: As ilustrações aqui no post, até onde eu pude pesquisar, são da primeira edição do livro, em 1915. Na primeira imagem temos Grete tocando violino e Gregor apoiado na porta com uma maçã enterrada em seu lado. E na outra vemos a empregada tocando o corpo já morto de Gregor. (Fim dos spoilers)
Nota 9/10. Recomendo para todo mundo, especialmente se você lida com algum familiar que precisa de ajuda especial ou se você quer ler livros mais cabeça e não sabe por onde começar.
